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Luto e perdas na pandemia: o que estamos vivendo?

Elaine Ribeiro, psicóloga Crédito: Arquivo/Canção Nova.
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*Elaine Ribeiro

Temos presenciado uma batalha dolorosa em todo o mundo com o novo coronavírus (COVID-19): milhares de pessoas internadas, muitas em UTIs e outras distantes de suas famílias, impedidas de visitar seus parentes. Equipes de saúde em intenso trabalho pela vida, dia e noite, incessantemente, também lidando com perdas. Um estado de medo, vigilância e receios frente ao que fazer.

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Empregos sendo perdidos diariamente e muitas famílias em desespero diante da crise econômica. Vivemos um tempo de perdas: perdas de vidas, da liberdade, das condições que tínhamos, da saúde emocional. Os números crescem diariamente em todo o mundo, numa realidade em comum: o luto e o sofrimento emocional vivenciado por todas essas pessoas e que, infelizmente, se tornam cada vez mais próximos, na medida que conhecemos alguém que passou pela doença.

Cada vez mais é consenso entre os profissionais de saúde mental que o luto por aqueles que faleceram tem sido um processo ainda mais doloroso, pois, deixamos de passar por rituais como velórios e celebrações religiosas. As reuniões de despedida com familiares e amigos para os sepultamentos não são mais permitidas neste tempo. Muitos são privados desta despedida por também estarem em isolamento. Todas as perdas levarão a estados emocionais dos mais variados, num misto de tristeza, dor, culpa e até depressão.

A elaboração deste luto necessita ser expressada de alguma forma. É importante direcionar os afetos, falar desta perda, contar com a acolhida de outras pessoas, dar sentido não apenas à perda, mas valorizar a vida que aquela pessoa teve ao seu lado, ajudando a dar sentido a tudo.

Não existe uma fórmula única e exata para viver a perda de uma pessoa querida, mas é importante, sim, encontrar um espaço de escuta, sem julgamento, onde a fala sobre as dores da perda possa existir. Fale, escreva, e, assim que possível, recomenda-se que as pessoas enlutadas se reúnam para uma celebração de memória àquele que veio a falecer, que pode ou não ter um ritual de espiritualidade e fé, conforme cada família.

Superar a dor passa também por dar um sentido maior àquilo que a pessoa que se foi significou, tudo o que foi construído em vida, todos os bons momentos vividos, as experiências, os ensinamentos.

Se você está próximo a alguém, seja suporte. Mesmo que não possa estar presencialmente, mantenha-se em contato. Não queira ter uma boa frase para dizer. Neste tempo, não há muito que dizer. Por vezes, só ouvir, ou ser aquele que possa levar compras, por exemplo, ou ajudar com providências de ordem prática. Saber que existem pessoas ao nosso redor num momento de perda é muito confortante, mesmo que esta presença não esteja exatamente ao lado. 

É importante expressar a dor pela perda sem reservas, dar-se a permissão para isto é essencial, bem como lidar com um misto de sentimentos que vão da raiva à desesperança, do choro ao desespero, da falta de rumo à necessidade de reestruturar a vida a partir daquela perda.

Evite uma cobrança excessiva para que tudo volte ao normal rapidamente. Etapas são necessárias e, quanto maior o nosso vínculo, maior significado e intensidade os sentimentos terão em nossa vida. Aos poucos, os ressignificados serão estabelecidos e redescobertos no amor vivenciado por aquela pessoa querida.

*Elaine Ribeiro é psicóloga clínica e organizacional da Fundação João Paulo II / Canção Nova.

Instagram @elaineribeiro_psicologa Site: www.elaineribeiropsicologia.com.br  


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