“Quero voltar a estudar e me formar assistente social para que eu possa fazer por alguém tudo o que fizeram por mim.” O depoimento de Pâmela Andrade, 28 anos, expressa gratidão, esperança e o início de um novo projeto vida. Mas nem sempre foi assim.
Dependente química há mais de uma década, a jovem viveu em condição de rua por anos, mas diante de um resultado positivo para uma doença infecciosa, começou a se convencer da necessidade de aceitar ajuda e mudar de vida.
Pâmela é uma das mais de 400 pessoas em situação de rua que passaram pela abordagem de saúde feita por enfermeiras, junto ao serviço de Apoio Social, que começou em dezembro do ano passado.
Num primeiro momento, mesmo com o diagnóstico, Pâmela não aceitou se tratar. Ela estava sob efeito de entorpecentes.
Mas, mesmo com a negativa, a equipe não desistiu e voltou a abordá-la dias depois. Na ocasião, a assistente social que já acompanhava a jovem diariamente nas ruas, juntamente com a enfermeira, fizeram orientações, explicaram sobre os problemas decorrentes da falta e tratamento e, enfim, conseguiram sensibilizar Pâmela para aceitar ajuda. A partir daí, o futuro dela começou a mudar.
“Minha primeira pergunta foi: eu posso morrer? Quando a enfermeira disse que sim, caso não me cuidasse, fiquei muito assustada, inclusive com a possibilidade de passar para outras pessoas. Decidi me tratar”, afirmou a jovem.
Sempre acompanhada pela equipe do Apoio Social e da enfermeira, ela começou a receber a medicação para tratar a infecção numa das Unidades Básicas de Saúde do município. E, nessa relação construída a partir de muito respeito, cuidado, carinho e confiança, os profissionais ajudaram Pâmela a compreender o quanto a dependência química também era prejudicial à vida dela.
Graças ao trabalho integrado da assistência social, junto com os profissionais de saúde, Pâmela também aceitou auxílio para tratar a dependência química e hoje está internada na Comunidade Terapêutica Nova Esperança, Organização da Sociedade Civil parceira da Prefeitura no cuidado as pessoas com esse tipo de patologia.
Para a enfermeira Larissa de Almeida Pinto, 32 anos, esse trabalho em conjunto com o Apoio Social está sendo muito importante. “A nossa a ação de saúde na rua foi um divisor de águas na vida da Pâmela, tudo começou pela saúde. Quando ela viu o resultado do exame, começou a compreender o que a doença poderia trazer para ela e isso a sensibilizou. Esse trabalho em equipe também nos permite abordar outras questões como a dependência química e ajudar essas pessoas a se cuidarem é muito gratificante.”
Recuperação
Há menos de um mês internada, Pâmela é só gratidão e elogios à equipe, ao serviço. Agradeço ao Apoio Social, a minha madrinha (assistente social Elisama) e as enfermeiras por tudo que fizeram por mim. “Aqui na comunidade, todos também têm muita atenção com a gente, providenciam tudo que a gente precisa. Nas crises de abstinência, eles conversam, nos acalmam. Isso é muito importante.”
Futuro
Sobre os planos para depois do tratamento, Pâmela diz nem saber por onde começar. “Quero ter certeza de que estou preparada para o ciclo social, um emprego e uma moradia.”
Ela que tem um filho de 5 anos, fala emocionada sobre a reinserção familiar e possibilidade de voltar a cuidar dele. “Quero ficar bem para ter ele comigo. Minha família é a minha base para conquistar tudo isso.”
Além da rua
De acordo com a assistente social, Elisama Araújo da Silva, 51 anos, estabelecer vínculos com as pessoas em situação de não é um trabalho fácil. Exige paciência, empatia e muito respeito. “É preciso saber que estamos entrando no mundo do outro e isso precisa ser feito com muita delicadeza e consideração. Pedindo licença mesmo.”
Para ela, começar com esse cuidado é fundamental para conseguirmos nos aproximar e realizar com sucesso todas as etapas. “Todo trabalho tem um começo, meio e fim. Com a Pâmela passamos com êxito por todas essas fases. É muito gratificante.”
Antes da internação, Elisama acompanhou Pâmela numa visita à família na cidade de Taubaté. “Foi emocionante ver o reencontro dela com a mãe, com o filho e os familiares. Isso deu muita força a ela”, concluiu.
Assistência + saúde
Realizada em parceria com a Secretaria de Saúde, a ação das enfermeiras junto às equipes de Apoio Social visa oferecer um serviço ainda mais qualificado à população de rua.
Nas abordagens são realizados testes para Infecções Sexualmente Transmissíveis e hepatites virais, além de orientações gerais de saúde.
Em pouco mais de um mês, mais de 400 pessoas já foram testadas. Destas, cerca de 60 testaram positivo e já estão em tratamento na rede de saúde do município.
Os profissionais de saúde atuam em conjunto com as equipes da assistência social das 11h30 às 23h30.
153
O serviço de assistência social à população começa pelo Apoio Social ou Centro Pop. A população pode ajudar a Prefeitura a cuidar destas pessoas ligando no 153.