Receber a confirmação de que seu bebê tem Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV) é um momento que finalmente dá uma resposta para o desconforto da criança, mas que vem acompanhada de uma onda de ansiedade pelo que vem pela frente.
A boa notícia é que, embora exija adaptação, o caminho para manejar a APLV é bem definido e seguro. Este guia foi elaborado para ser seu parceiro, transformando a incerteza em conhecimento. Aqui, você encontrará informações detalhadas, baseadas nas diretrizes de entidades como a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e estudos, para entender cada etapa do processo.
Qual é o primeiro e mais importante passo?
O passo mais crucial após o diagnóstico é formar uma equipe de saúde de confiança. A jornada não deve ser feita com base em pesquisas online, mas sim em uma parceria sólida com profissionais.
Sua equipe ideal inclui: o pediatra, que cuida da saúde geral do bebê; o médico especialista (alergista ou gastropediatra), que conduz o tratamento específico; e um(a) nutricionista, profissional fundamental para criar um plano alimentar seguro, garantindo que nem você (se estiver amamentando) nem seu bebê tenham carências de nutrientes essenciais, como o cálcio.
Onde encontrar apoio e informações confiáveis?
A jornada da APLV pode ser solitária e estressante. O impacto na dinâmica familiar, na vida social e nas finanças é real. É fundamental cuidar não apenas da criança, mas de toda a família. Para iniciar essa busca por conhecimento de forma segura, um bom hub de conteúdos sobre a Alergia à Proteína do Leite de Vaca pode servir como um ponto de partida centralizado, reunindo informações validadas por especialistas.
Conectar-se com outras famílias que passam pela mesma situação também pode ser incrivelmente reconfortante, mas lembre-se que esses grupos são para suporte emocional, e nunca devem substituir a orientação da sua equipe de saúde.
Como a alimentação da família vai mudar?
A base do tratamento é a exclusão total da proteína do leite de vaca. A recomendação prioritária das sociedades médicas é sempre a manutenção do aleitamento materno. Neste caso, é a mãe quem deve iniciar uma dieta de exclusão de leite e todos os seus derivados, sempre com acompanhamento profissional.
Se o bebê utiliza fórmula, o médico indicará a substituição por uma opção hipoalergênica segura. É crucial seguir a prescrição, pois existe uma hierarquia de tratamento:
- Fórmulas Extensamente Hidrolisadas (FeH): São a primeira escolha para a maioria dos casos. Nelas, as proteínas do leite são “quebradas” em partículas muito pequenas.
- Fórmulas de Aminoácidos (FAA): São 100% não alergênicas e reservadas para casos mais graves ou quando a FeH não foi suficiente.
Como garantir a segurança na rotina da cozinha e das compras?
A segurança alimentar do bebê alérgico exige vigilância constante. Duas habilidades são essenciais:
- Decifrar os rótulos: A legislação brasileira (ANVISA) obriga a declaração clara de “ALÉRGICOS: CONTÉM LEITE” ou “PODE CONTER LEITE”. Crianças com APLV devem evitar ambos. Fique atento também a nomes “ocultos” como caseína, lactoalbumina e soro de leite. Lembre-se: leite de outros mamíferos (cabra, ovelha) não são seguros devido à altíssima chance de reação cruzada.
- Evitar a contaminação cruzada: Tenha utensílios (tábuas, colheres, potes) e esponjas de uso exclusivo para o bebê. Lave sempre as mãos com água e sabão antes de preparar a comida da criança e nunca use o mesmo óleo de fritura para alimentos com e sem leite.
Meu filho terá APLV para sempre?
Para a imensa maioria das crianças, a APLV é uma condição temporária. As estatísticas são animadoras: mais de 90% superam a alergia até os 6 anos de idade. Após um período de exclusão (geralmente de 6 a 12 meses), o médico irá programar uma reavaliação.
A confirmação da cura é feita de forma segura através do Teste de Provocação Oral (TPO), realizado em ambiente clínico. Em muitos casos, uma abordagem mais gradual, a “Escada do Leite”, pode ser usada sob orientação médica para reintroduzir o leite aos poucos, começando por alimentos bem assados.
O que fazer em caso de uma ingestão acidental?
Mesmo com todo o cuidado, acidentes podem acontecer. É vital estar preparado. Converse com o médico do seu filho para criar um plano de ação de emergência por escrito. Este plano deve detalhar quais medicamentos usar e quando, dependendo dos sintomas.
Para crianças com risco de reações graves, o plano deve incluir o uso de adrenalina autoinjetável, e a família deve ser treinada para seu uso.
Com informação de qualidade e o amparo médico correto, essa fase será superada, e o futuro mais provável é o de uma criança saudável e com uma vida alimentar sem restrições.
Referências:
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALERGIA E IMUNOLOGIA (ASBAI); SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2018 – Parte II – Diagnóstico, tratamento e prevenção. Documento conjunto. Arquivos de Asma, Alergia e Imunologia, v. 2, n. 2, p. 89-124, 2018.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). SBP lança documento científico para ajudar na prevenção e tratamento de doenças alérgicas. 15 jan. 2019. Disponível em: https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/sbp-lanca-documento-cientifico-para-ajudar-na-prevencao-e-tratamento-de-doencas-alergicas/.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução da Diretoria Colegiada – RDC nº 26, de 2 de julho de 2015. Dispõe sobre os requisitos para rotulagem obrigatória dos principais alimentos que causam alergias alimentares. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 3 jul. 2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 1.275, de 20 de junho de 2017. Aprova o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Alergia à Proteína do Leite de Vaca. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 21 jun. 2017.
SOLÉ, D. et al. Guia prático de diagnóstico e tratamento da Alergia à Proteína do Leite de Vaca (APLV) mediada e não mediada pela Imunoglobulina E. Documento conjunto da Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunologia. Arquivos de Asma, Alergia e Imunologia, v. 1, n. 2, p. 1-20, 2017.
WOOD, R. A. The natural history of food allergy. Pediatrics, v. 111, n. 6 Pt 3, p. 1631-1637, jun. 2003.