O cultivo de hortas orgânicas como alternativa sustentável de produção e distribuição de alimentos e adoção de uma alimentação mais saudável, vem ganhando espaço nos grandes centros urbanos. Em São José dos Campos, esta prática é incentivada pela Prefeitura desde 2009 por meio do Programa Hortas Urbanas.
O trabalho de conscientização e capacitação desenvolvido por educadores da Secretaria de Urbanismo e Sustentabilidade, levando de forma continuada para grupos de escolas, unidades de saúde, condomínios, entidades sociais e outros núcleos da comunidade, demonstra como as boas práticas ambientais vêm gerando um efeito transformador nas pessoas e seu grande potencial de “viralização” na sociedade.
Noções básicas
O programa oferece noções básicas para cultivo de hortaliças, ervas, temperos para o dia a dia, sementes e brotos comestíveis e está ajudando a difundir as propriedades de algumas PANCs – Plantas Alimentícias não Convencionais. O programa também ensina como transformar resíduos orgânicos em adubo por meio da compostagem. Em 2019 cerca de 3186 munícipes foram atingidas pelo Programa Hortas Urbanas em oficinas, palestras, feiras e rodas de conversa.
As hortas podem ser cultivas em quintais amplos ou floreiras e adaptadas para casas, apartamentos, espaços públicos e privados. Além de incentivar o cultivo de alimentos naturais e a alimentação saudável, a atividade busca também promover a interação social e proporcionar o bem-estar físico e mental a partir do resgate do contato com a terra.
“A horta é uma grande ferramenta para trabalhar a segurança alimentar, a educação ambiental, a mobilização social e os aspectos de vizinhança. Além disso, mais do que útil e saudável, é uma atividade prazerosa junto à natureza”, destaca a educadora Elisa Farinha, da Secretaria de Urbanismo e Sustentabilidade.
Hortas em UBS’S
A partir de uma parceria com a Secretaria de Saúde no âmbito do Programa de Nutrição, desde 2016 foram iniciadas Hortas Comunitárias nas UBS’s (Unidades Básicas de Saúde), trabalhando conceitos de preservação da saúde, qualidade de vida e alimentação saudável com grupos de prevenção de obesidade, diabetes e hipertensão, além de outros usuários. Atualmente, a iniciativa está presente em 32 unidades de saúde.
“Enquanto a Divisão de Educação Ambiental auxilia com as mudas, palestras e oficinas, a Secretaria de Saúde o mantém ativo e aberto nas unidades básicas de saúde, levando informações como a importância dos nutrientes existentes na alimentação sem agrotóxicos proporcionados pelas hortas, além de sempre mantê-las abertas à comunidade”, explicou Nilson Aparecido dos Santos, gerente da UBS do Dom Pedro.
Para Mauricio Ribeiro, 75 anos, aposentado, que participa pela primeira vez da iniciativa, o projeto traz boas lembranças. “Tenho pequena noção sobre hortas, onde eu morava antes era uma chácara e eu mexia bastante com elas. Então pra mim esse projeto é bonito, bem planejado e pode ajudar muito a comunidade”.
“A gente não faz pela gente, faz pela população toda”, foi o pensamento expresso pela aposentada Maria Aparecida de Souza, 60 anos, que participa ativamente do Programa na UBS Dom Pedro, onde mora.
“Eu participo desse projeto há muito tempo, adoro mexer com as plantas, então estou aqui quase todos os dias (risos). Eu plantei muito aqui, sempre junto com a equipe da UBS e a comunidade. Nós plantamos espécies como pé de pitangueira, pé de rosa, boldo, inhame e granadilha. Mas, o mais importante de tudo, é que a gente não faz pela gente, faz pela população toda”, destacou.
“Eu dou muito valor ao projeto de horta comunitária por ele propiciar a parte social com os pacientes e criar vínculos, porque conseguimos por meio do projeto trazer aqueles que não procuram a UBS. Temos inclusive relato de pessoas que deixaram de fumar, porque ao gostar tanto do projeto Hortas Urbanas, aderiu ao programa antitabagismo”. concluiu Nilson.
Mensalmente são realizadas rodas de conversa e degustações de pratos elaborados com a utilização de PANC’s- Plantas Alimentícias não Convencionais.
Meio Ambiente como estratégia de gestão
Em um condomínio empresarial localizado na zona norte de São José dos Campos o estímulo ao cultivo de hortas e a prática da compostagem entre os funcionários tornaram-se uma estratégia para aliar crescimento à melhoria do meio ambiente.
“Após conhecer os projetos da Prefeitura, a empresa decidiu firmar esse compromisso com o meio ambiente e aderir à implantação de uma horta e composteira para reciclar os resíduos orgânicos produzidos”, contou a consultora de gestão estratégica da empresa Lídia Cristina Tosta.
“O grupo vê esse projeto com bons olhos por ser algo muito interessante, e também pelo perfil da empresa que tem um grande apelo para a questão ambiental e sustentável no mundo. O projeto aqui ainda é pequeno, mas, queremos continuar e ampliar o trabalho dentro das nossas possibilidades. O que pudermos fazer para contribuir com o projeto, será feito”, destacou Rafael Sousa, supervisor de suprimentos.
Lauro Adriano Garcia, diretor da empresa, também revela a gratificação pessoal com o projeto. “Tenho muita satisfação de fazer parte desse projeto na empresa, porque eu nasci em fazenda e isso me fez gostar muito da natureza. Para nós está sendo muito bom, porque o meio ambiente é de grande importância. Agora nós fazemos algo, mesmo que pouco, para que no futuro nós tenhamos um meio ambiente melhor do que hoje”.
Condomínio Sustentável
Em um grande condomínio residencial no Centro de São José dos Campos o cultivo de hortas e a prática da compostagem de resíduos orgânicos gerados nos apartamentos também mobilizou moradores. A engenheira agrônoma Daniele Xanchão Domingues, conta que a ideia nasceu há cerca de 1 ano. “Primeiro iniciamos a atividade da horta com as crianças, mas depois partimos também para a compostagem, e como nós temos aqui no prédio uns jardins grandes, então incentivamos a compostagem para também cuidarmos do jardim, reduzindo assim o custo com adubo”.
Ela conta que o apoio da Prefeitura foi fundamental para a implantação da composteira e com palestras que esclareceram os moradores sobre o funcionamento da composteira e manejo dos resíduos.
“O trabalho começou com os resíduos de seis famílias e em pouco mais de 1 mês com o interesse de muitos moradores querendo participar já houve a necessidade de implantar uma nova. Agora enquanto uma está enchendo a outra está em processo de degradação. Deu muito certo”, afirmou Daniela.
Ela também destacou a aproximação das pessoas com o projeto e a mudança de olhar. “No começo do projeto os adultos ficavam meio inibidos de começar a plantar, mas agora eles participam bem mais! Final de semana as pessoas vêm pegar o manjericão para colocar no macarrão, para fazer chá, então acabamos integrando as pessoas, causando essa sensação de pertencimento, compartilhando toda essa atividade. Também fico muito feliz em ver a conscientização das pessoas em relação aos resíduos, que agora eles não enxergam mais como lixo e sim como um recurso!”, concluiu Daniela.
Aprendizado para as crianças
Nas escolas o Programa Hortas Urbanas é um campo fértil para o aprendizado das crianças. Em parceria com a Secretaria de Educação o programa está sendo realizado em diversas escolas, em muitas já foi adotada a compostagem.
A EMEF Álvaro Gonçalves no Campo dos Alemães adotou o projeto de horta e compostagem a partir deste ano com o envolvimento das crianças. A Orientadora Pedagógica, Patrícia Mineiro, destacou que o projeto vem integrando as disciplinas da jornada ampliada da escola.
“Na aula de culinária as crianças estão aprendendo e fazendo receitas com utilização dos alimentos do projeto “Mãos na horta”. A professora de linguagem e comunicação também trabalha com a edição de vídeos com os alunos tendo foco no trabalho das hortas, ou seja, todos os projetos se conectam de alguma forma e todos os 120 alunos da jornada ampliada participam deles”.
Os alunos ficam muito curiosos e estimulados com toda a parte prática de contato com as plantas e nós fizemos um trabalho para deixar a horta com a “carinha deles”, pintamos os canteirinhos, porque assim há mais vontade de cuidar. Depois da “ação” nós entramos com um embasamento mais teórico e conceitos que também são muito importantes, explicou a professora de ciências Talita Nozaki.
“A maior missão desse projeto é o resgate com a natureza que estamos perdendo. Nós compramos coisas no mercado sem saber de onde vem, então é para realmente fechar um ciclo, informar de onde vem, que é necessário cuidar, saber como foi feito o que chega na minha mesa, se é com ou sem agrotóxicos, ou seja trazer essa percepção mais crítica para eles”, destacou.
“Estou gostando, é um bom projeto para o meio ambiente e pra gente também porque faz bem. Eu preciso saber respeitar e cuidar do meio ambiente, respeitar os outros colegas que me ajudam na horta. A gente se distribui nas tarefas e o mais importante é que a gente trabalha juntos, unidos.”, destacou Raiany Barbosa Lima 12 anos
“Eu quis participar porque é um projeto novo e está sendo bem legal aprender a plantar e está deixando a escola mais bonita”, Cailane Suelen Ferreira de Oliveira, 11 anos
“É importante para a gente ter um temperinho para colocar na comida. Essa aqui é natural e as outras do mercado tem produto químico”, disse Ryan Jesus Guedes da Silva, 12 anos
Na EFETI Maria Ofélia do Jardim Limoeiro, professores e alunos também estão engajados nos cuidados com as hortas.
“É um orgulho participar desse projeto. Nós vemos a mudança de hábito deles, tanto na questão do cuidado com a planta, quanto na mudança em casa, pois muitos aprenderam a comer o que antes não gostavam. A gente também aborda o cuidado com o meio ambiente, a importância de nos alimentarmos com produtos sem agrotóxicos, pois quanto mais natural melhor para a saúde. Outra mudança que vemos é o trabalho em grupo e a melhoria de convivência entre os alunos”, destacou a professora Marcia Oliveira, do ateliê de sustentabilidade.
“Esse é um projeto que vem para mostrar essa outra perspectiva que precisamos olhar mais para o que comemos e sermos mais saudáveis”, destacou Luany Evilin do Nascimento Ribeiro, 14 anos, aluna do 9º ano.
“Eu nunca tive contato antes com as plantas, com o ato de plantar, e agora estou achando muito bacana. Sabe, a gente sente prazer em comer o que nós plantamos. Não têm agrotóxicos, não tem conservante. Então eu estou amando esse projeto”. Giovana Ricieli Mendes Costa, 11 anos, aluna do 6º ano.